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7º Encontro Paulista de Professores de Jornalismo Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus de Bauru 20 e 21 de maio de 2016

Diálogo entre governo e cidadãos via site de rede social: uma análise da fan page da Secretaria de Políticas para as Mulheres 1 Bruna Silvestre Innocenti GIORGI2 (UNESP, Bauru - SP)

Resumo O artigo analisa a fan page da Secretaria de Políticas para as Mulheres, no período de novembro de 2015 a janeiro de 2016, com o objetivo de identificar se é uma ação de comunicação pública que contribui para a democracia digital e o fortalecimento do direito das mulheres. Para isso, foram analisados vinte posts, observando e organizando os dados em tabela do Excel com assunto em que ele estava inserido, a mídia envolvida, o uso de hashtag, a quantidade de curtidas, compartilhamentos e comentários. Em um viés qualitativo, investigou-se o caráter dos comentários e se o moderador da fan page comentava, interagindo com os usuários. O resultado mostrou que a rede social fomenta uma comunicação assimétrica, de ordem descendente, priorizando assuntos institucionais e de promoção da SPM. Palavras-chave Comunicação pública; jornalismo;democracia digital; internet; fan page

Introdução O Facebook é um dos sites de redes sociais mais populares do Brasil, atraindo empresas e órgãos públicos a gerirem páginas, as fan pages, e dialogarem com o seu público. Nesse sentido, a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), ligada ao Poder Executivo Federal, também disponibiliza conteúdos por meio desse canal, possibilitando uma maior aproximação com a sociedade, já que em seu sítio não há a possibilidade da realização de comentários, por exemplo. Essa ação pode ser uma estratégia da democracia digital para incentivar a transparência dos órgãos públicos e a participação dos cidadãos. Mesmo ciente de que essa rede social não tem a validade oficial para decidir políticas, a pesquisa tem a intenção de observar como os usuários seguidores interagem com os conteúdos e como os gestores (principalmente jornalistas) se relacionam com esse público. A pergunta 1

Trabalho apresentado no GP 4 – Produção Laboratorial – Eletrônicos, do 7º Encontro Paulista de Professores de Jornalismo, realizado na UNESP-Bauru, em 20 e 21 de maio de 2016. 2 Formada em Jornalismo pela UNESP e pós-graduanda no Programa de Mestrado em Comunicação, da UNESP, desde 2014. 1

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crucial da pesquisa é: a fan page SPMulheres contribui para a democracia digital e, consequentemente, para o fortalecimento dos direitos das mulheres? Desse modo, a primeira parte do artigo corresponde a uma revisão bibliográfica sobre democracia digital e comunicação pública para dar suporte teórico à pesquisa. E, em seguida, se expõe os dados de uma pesquisa empírica feita na fan page da SPM com a intenção de entender como ela é gerida, que tipo de conteúdo é disponibilizado e de que forma se dá a participação dos usuários seguidores dessa página. O momento escolhido para a coleta de dados foi a publicação do Mapa da Violência 2015, que ocorreu no dia 9 de novembro de 2015, em que os direitos das mulheres ficaram em voga pela sociedade e mídia tradicional. A hipótese é a de que os assuntos sobre violência contra as mulheres e os dados do Mapa da Violência 2015 sejam os assuntos mais frequentes e que receberam mais envolvimento (curtir, compartilhar e comentar). Outra suposição levantada é a de que o moderador da fan page não participará das discussões ou responderás às dúvidas, proporcionando outro questionamento para a pesquisa: por que órgãos públicos criam canais em redes sociais se não a utilizam de forma adequada? Provavelmente, esta suposição não será respondida nesta pesquisa,

mas será possível apontar

direcionamentos. A seguir, há a revisão bibliográfica da pesquisa, baseada principalmente por artigos e relatórios de OCDE (2003), Marques (2006), Rothberg (2008) e Gomes (2011), que pautará a temática de democracia digital relacionada ao trabalho dialógico da comunicação pública, que se entende como a comunicação que se faz entre Estado, governo e sociedade, intentando o debate para a construção de políticas públicas para as mulheres mais aprimoradas e edificadas de forma participativa e transparente. Internet e as possibilidades de democracia digital Ser informado, conhecer os mecanismos para as tomadas de decisões e ter habilidade para influenciar a agenda política são alguns dos quesitos para participar da democracia representativa. Essas características se tornam mais estimuladas com a emergência dos canais web, que possibilitou uma aproximação do governo e sociedade, fortalecendo ações participativas e de deliberação.

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Rothberg (2008) aponta que o capital social entendido como a qualidade resultante do exercício dos direitos civis e políticos pelos cidadãos, unidos por meio de um debate em que se priorize a coletividade e a democracia, pode ser potencializado pelas ferramentas da internet. Essa contribuição aplica-se principalmente no desenvolvimento de consultas públicas e no fortalecimento da democracia digital. Dar poder à sociedade em decidir e opinar sobre políticas não quer dizer perda de autonomia por parte dos governos, “mas ampliação da capacidade de produzir a resposta desejada pelas comunidades” (ROTHBERG, 2008, p. 151). Para OCDE, essas ações ajudam a promoverem políticas públicas mais eficientes e abrangentes. O “engajamento de cidadãos na produção de políticas públicas é um investimento sólido no desenho e na oferta de políticas melhores e um elemento central de boa governança” (OCDE, 2003, p. 9). As discussões na internet de temas de interesse coletivo, frequentemente centralizadas em partidos ou organizações, alcançam maior liberdade e fomentam opiniões de vozes, muitas vezes, silenciadas, como é o caso dos indivíduos de grupos minoritários. “Este novo meio de comunicação poderia ser utilizado para devolver à esfera civil o poder de formulação da agenda pública” (MARQUES, 2006, p. 173). O diálogo, possibilitado principalmente pelas ferramentas das plataformas de redes sociais, seria permanente e realizável em qualquer lugar, já que internet e os dispositivos mobile viabilizam um alcance muito amplo. O conceito de democracia digital será baseado pela proposição de Gomes (2011), que assinala que é a promoção de ações em meios digitais, como dispositivos, programas, canais e ferramentas, que fortalecem a democracia em seu sentido participativo e de ligação entre Estado e sociedade. O autor ressalta que o centro das ações é no cidadão, que deve ter sua participação acentuada. Já o governo deve promover ações que gerem transparência e participação social, buscar a garantia dos direitos às minorias e defender a pluralidade de assuntos, de debatedores e agenda na esfera pública. Para OCDE (2003), a perspectiva democrática e a tecnológica devem ser conjuntas para o incentivo da participação pública ampla. Ou seja, ações transparentes que gerem confiança e o uso de sistemas que possibilitem o acesso de todos, em âmbito técnico e cognitivo, devem ser prioridade no desenvolvimento de uma democracia digital. “As questões de acesso desigual à tecnologia e as capacidades técnicas desiguais de cidadãos 3

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exigem sistemas que são simples de usar. Da mesma forma, a exigência pela transparência demanda procedimentos a ser racionalizado e simplificado”, (OCDE, 2013, p. 38, tradução nossa). Aliando as perspectivas apontadas pela OCDE, democracia digital pode ser imputada como fortalecedora da cidadania, já que busca tornar as ações públicas transparentes, agindo de forma responsiva, possibilitando a fiscalização e o engajamento da sociedade; e como incentivadora da representação das minorias, como das mulheres, ampliando as oportunidades de participação na decisão política. Contudo, a qualificação dos cidadãos e a oferta de informações de qualidade são fundamentais para o desenvolvimento da democracia digital. “Não basta e nem é necessário haver participação em massa, não basta haver meios e oportunidades de participação; é preciso que tudo isso seja moderado pela posse da informação necessária a uma qualificação necessária” (GOMES, 2011, p. 38). Nesse sentido, de forma complementar, Rothberg (2008) aponta para a quantidade imensurável de informações presentes na internet, que pode trazer oportunidades relevantes ao engajamento cívico político do cidadão, mas também pode fazê-lo se perder e se afastar do assunto. Assim, investimentos amplos na convergência digital apenas na questão tecnológica, segundo Jorge e Bezerra (2010), “não significam, necessariamente, a realização qualitativamente superior da accountability política e da responsividade, e, consequentemente, a concretização de alguns dos requisitos políticoadministrativos fundamentais para a prática da boa governança” (p. 24). Marques (2006) identifica os espaços discursivos digitais com a noção de conversação civil, em que os debates são informais e muitas vezes inconclusos, visando à formação da opinião e, não necessariamente, a tomada de decisões. Já que essa última intenção necessita de certa organização e regras instituídas formalmente. A autor ainda assinala que a internet pode se comportar como uma esfera pública eficaz, quando a deliberação ocorre por um público seleto, interessado e dedicado ao tema, como ocorriam com as listas de discussões do início do século XXI (MARQUES, 2006). Essa lista de discussão pode ser transmutada por fóruns, consultas públicas regidas de forma aberta e também por grupos de redes sociais, que englobam pessoas vinculadas a um interesse. Além de estimular a exposição espontânea de opiniões, outra característica advinda das novas tecnologias, segundo Marques (2006, p. 167) é “atender demandas 4

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individuais, onde cada um busca a informação que deseja, podendo modificá-la ou adicionar suas considerações para uma posterior publicação, sem grandes dificuldades ou custos”. Tratar o público com mais singularidade e particularidade é importante e faz parte da comunicação pública, diferentemente da mídia comercial. No entanto, a concepção da demanda individual pode ser pensada em um viés de isolamento dos indivíduos na sociedade. Sobre essa perspectiva, é possível pensar que, pela característica da internet que se abre para diversas vozes, pode ocorrer a prevalências de opiniões em detrimentos a outras, principalmente daquelas que são ratificadas pelo emissor. Opiniões de grupos minoritários, como negros e mulheres, podem ser subsumidas no meio de um debate virtual. “Desta forma, a saída é admitir a existência de múltiplos públicos competitivos (ou diversas microesferas públicas), cada um com suas pretensões de validade, chamando para si o domínio da compreensão de determinada questão em debate” (ROTHBERG, 2008, p. 156). Assim, surgem várias microesferas tematizadas proporcionando uma diversidade de grupos que produzem o seu discurso único, que pode ter aspectos positivos, como também negativos. “Ao invés de forçar o consenso, o debate aclara as singularidades em disputa” (ROTHBERG, 2008, p. 156). Ou seja, grupos se formam para conquistar voz, no entanto, se fecham e se limitam a uma mesma perspectiva. Essa característica pode ser pensada nos grupos existentes nos sites de redes sociais, bem como as fan pages do Facebook, que são páginas com caráter institucional e/ou comercial. Vale destacar um problema crucial na democracia digital que é a exclusão digital, entendida por muitos autores como um fosso capaz de não lograr o papel da democracia. Para classificar as ações realizadas pela democracia digital, a OCDE (2003) criou três níveis. O primeiro se refere à oferta de informações (e-information) em uma comunicação de via única e concerne à disponibilização de informações por demanda ou de forma voluntária pelo poder público; o segundo é a disponibilização de consultas eletrônicas (e-consultation), em que a sociedade pode opinar sobre as políticas e programas, estabelecendo um diálogo de mão dupla, com feedback por parte dos representantes; e participação ativa (e-decisionmaking), em que a sociedade, por meio de um debate racional, tem espaço para decidir ou opinar sobre ações, entretanto a etapa

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conclusiva de formulação de políticas ainda permanece sob comando do governo ou legisladores. Ao que se refere à fan page do Facebook, ela tem ferramentas e características que possibilitariam a democracia digital em todos esses níveis. No entanto, é comum observarmos o uso das redes sociais como arma de propaganda governamental ou política. Nascimento (2013) analisou o Twitter de órgãos governamentais referentes ao meio ambiente e à agricultura, e percebeu que a maior quantidade de informações se referia a assuntos institucionais. “Mesmo tendo em mãos recursos capazes de estabelecer relações simétricas, as organizações preferem a segurança do tradicional modelo de comunicação descendente, tendo o governo como emissor e o cidadão como receptor” (NASCIMENTO, 2013, p. 208). Esse resultado aponta para uma comunicação pública governamental voltada à publicidade (BRANDÃO, 2012). No entanto, conforme Koçouski (2013), a comunicação pública envolve vários atores – Estado, Terceiro Setor, partidos políticos, sociedade civil organizada e outros – e deve ser determinada visando o “objeto que a mobiliza – o interesse público – afastando-se, ainda, de uma finalidade de cunho mercadológico” (p. 52). A comunicação pública uma página de rede social destinada a políticas para as mulheres deveria, então, postar conteúdos importantes para a condição feminina, incentivar o público a se expressar com a confiança de que será ouvido. Algumas interações próprias da fan page podem sinalizar sobre a gestão da rede social. E é a partir dessa concepção que o artigo segue. Primeiramente apresentando a metodologia usada e, depois, expondo e discutindo os resultados coletados. Descrição metodológica Metodologia Foram analisadas as postagens da fan page da Secretaria de Política para as Mulheres, considerando o período de um mês, do dia 9 de novembro a 9 de dezembro de 2015, data escolhida por conta da divulgação do Mapa da Violência 2015. Esse relatório, feito pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, ONU Mulheres e SPM, mostrou principalmente uma discrepância entre as raças, pois, em um ano,

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morreram assassinadas 66,7% mais mulheres negras do que brancas no país (WAISELFISZ, 2015). A coleta dos dados foi feita dois meses depois da primeira postagem, proporcionando um tempo hábil para o moderador da fan page responder ou interagir com os internautas. Em seguida, em uma tabela criada no Excel, a pesquisadora organizou os dados em cada lacuna separada por dia de publicação, assunto referente, presença de hashtag (#), caráter da publicação (fotos, vídeo, compartilhamento de outra página, link), quantidade de curtidas, quantidade de compartilhamentos, quantidade de comentários e número de respostas dadas pela moderação. Sobre o assunto, para melhor visualização e organizações, foram criadas categorias conforme a observação temática dos post. Seis tipos foram observados: a) Andamento de programas: refere-se a assuntos de desenvolvimento de ações que visem fortalecer o direito das mulheres, como a construção da Casa das Mulheres; b) Evento: corresponde à informação sobre lançamentos, homenagens, comemoração e cursos de assuntos diversos sobre o universo de gênero, em que a SPM organiza ou participa através de alguma representante; c) Institucional: equivale a presença, participação e agenda das secretárias da SPM, no sentido de focar nas ações e qualidade da Secretaria; d) Parceria: relaciona-se com o fechamento de acordos entre o governo e empresas privadas; e) Raça e gênero: correlaciona com questões das mulheres, ligadas a raça negra ou indígena; f) Violência: contém informações sobre o Mapa da Violência e outras ações e direitos que combatem a violência contra a mulher. As hashtags, criadas por meio do símbolo jogo da velha (#), geram links que agrupam informações marcadas com a mesma palavra-chave, facilitando a visualização e mobilização de um determinado assunto nos sites de redes sociais. Essa categoria de análise possibilita observar o quanto os moderadores da fan page estão dispostos a expandir e publicizar um tema de postagem.

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Já a classificação de se há foto, vídeo, link para outro site ou foi um post de compartilhamento mostra a forma como os comunicadores utilizam as ferramentas multimídia e como as internautas interagem com cada tipo. Sobre a resposta do público, será analisado a quantidade de “Curtir”, que é a forma mais superficial de se relacionar a um assunto; “Compartilhar”, em que o internauta possibilita uma ampliação na visualização do post também para os seus “amigos”; e “comentários”. Os comentários dos usuários também foram classificados em “neutro”, quando eram despretensiosos; e “potencial para o debate”, se havia teor que contribuísse para enriquecer a informação e possibilitasse uma discussão frutífera e participativa entre os internautas e a Secretaria. A resposta da página para dúvidas ou opiniões expostas também será contabilizada e qualificada com a intenção de observar como ocorre o diálogo entre sociedade e governo em um site de rede social. Apresentação e inferências do resultado da análise da fanpage SPMulheres O período estabelecido obteve vinte postagens, identificando 0,33 por dia e detectando que não há uma regularidade dessas publicações. Esse fato pode depreender que as informações são transmitidas conforme ocorrem os fatos, não havendo planejamento da mídia por uma equipe especializada. O caráter de 75% dos posts serem de álbum de fotos, 20% de links externos e 5% de compartilhamento também direcionam para a perspectiva da ausência de uma equipe que desempenha especificamente a gestão da página no Facebook. A seleção do período pressupõe que a maior parte das informações seria sobre a ‘violência’, por conta da divulgação do Mapa da Violência 2015, que teve grande repercussão nas mídias sociais e convencionais. No entanto, o gráfico a seguir mostra que houve uma variação de assuntos no período: Gráfico 1. Categorias temáticas das postagens da fan page da SPM

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Fonte: elaboração própria Conforme o gráfico, observa-se que ‘institucional’ e ‘evento’ foram os assuntos mais presentes, contabilizando 50% das postagens. ‘Violência’ aparece com 20% e ‘raça e gênero’ com 15% das postagens. ‘Andamento de programas’ (10%) e ‘parceria’ (5%) foram as categorias menos frequentes. Apesar de ser uma amostra pequena, a priorização dos assuntos ligados às secretarias (institucional e evento) sinaliza que a comunicação pública ainda é vinculada à publicidade governamental, divulgando feitos e vantagens. Em relação às hashtags, de vinte postagens apenas três possuem, sendo 2 referentes à temática ‘raça e gênero’ com a mesma: #MarchadasMulheresNegras e 1 correspondente ao programa Ligue 180, do assunto ‘violência’, com a #10anosligue180. Essa última hashtag é comemorativa, o que também demonstra os esforços para divulgar e mobilizar assuntos voltados à secretaria, em um sentido institucional e de promoção. Já a #MarchadasMulheresNegras é uma tag criada por um grupo de movimentos de feministas negra, denominado de Comitê Impulsor Nacional da Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo, que a disseminaram para divulgar a marcha, que ocorreu em Brasília, dia 18 de novembro de 2015. As publicações são baseadas em álbum de fotos, ferramenta em que é possível publicar várias fotos de um mesmo tema. Com essa característica, foram encontradas 9

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quinze postagens. Além dessa, também apareceram quatro com direcionamento para links externos e uma referente a um compartilhamento de imagem de outra fan page. A tabela a seguir apresenta os dados absolutos de cada assunto de conteúdo de postagem em relação às interações que o Facebook possibilita, como curtidas, compartilhamento e comentários. A categoria resposta do moderador esteve ausente nestas vinte páginas, por isso está omitido da tabela. Tabela 1. Categorias temáticas das postagens da fan page da SPM Assuntos Likes Violência 1215 Evento 529 Raça e gênero 434 Andamento de 156 programas Institucional 183 Parceria 41 Total 2558 Fonte: elaboração própria

Compartilhamento 781 246 269

Comentários 12 11 3

Total 2008 786 706

45

0

201

12 2 1355

5 2 33

200 45 3946

Conforme a Tabela 1 é possível visualizar que foram realizadas 3946 interações, sendo a maior parte (64,8%) “curtidas” e compartilhamentos (34,33%). ‘Comentários’ é a menor fatia, 0,83%, o que era esperado, mas não com essa dimensão tão diminuta. Esse número também pode ser visualizado em relação à quantidade e qualidade dos comentários, como apresenta o Gráfico 2: Gráfico 2. Quantidade e qualidade dos comentários em postagens divididas por temas

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Fonte: elaboração pública A categoria ‘violência’ é a que recebeu mais comentários com potencial para discussão. O encorajamento de denúncias e o apoio a causas de combate à violência foram temas de um comentário que gerou outras respostas de internautas. Um exemplo é visto no post do dia 5 de janeiro, que é o compartilhamento de uma imagem da Secretaria Cidadã de Goiás sobre o direito da cirurgia plástica no SUS pela mulher vítima de agressões físicas. Uma usuária comentou primeiramente no sentido de que é difícil para mulher violentada procurar esse tipo de ajuda e, em seguida, obteve a resposta de um usuário clarificando outros programas que o governo disponibiliza, na intenção de complementar o primeiro comentário. No entanto, ainda é um número muito ínfimo de opiniões expostas, o que pode estar associado ao fato de que as postagens, em sua maioria, eram referentes a álbuns de fotos, o que provoca menor dúvidas, questionamentos e críticas; e também pelas temáticas, em que “institucional” e “evento” aparecem com maior frequência. Na temática de ‘eventos’, houve alguns comentários de dúvida em relação à data e forma de inscrição. No entanto, não obtiveram resposta pela página, constatando a fomentação de uma comunicação assimétrica descendente. Considerações finais

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A democracia digital corrobora principalmente com a transparência das ações públicas e a participação dos cidadãos em debates que visem fortalecer as políticas públicas. A comunicação pública, que se ampara no interesse público, tem papel importante na prestação de serviço, oferta de informações de qualidade e manutenção do diálogo entre os atores envolvidos. Essa introdução pode responder a pergunta crucial deste artigo, mostrando que a fan page SPMulheres não tem potencial para contribuir com o fortalecimento da democracia pública com a fomentação de diálogo e debates com o intuito de construção ou aprimoramento de políticas públicas. Isso porque não prioriza a participação e o caráter dialógico da comunicação. Esta pesquisa teve a intenção primordial de avaliar como ocorre o diálogo e a manutenção dele nas postagens da fan page da SPM. O capital social, por exemplo, advém principalmente do efeito da confiança, produzido pela coletividade, discussão racional e participação. No entanto, diante dos dados apurados dificilmente essa qualidade ocorre. Primeiro porque o perfil da fan page não interage respondendo usuários. Segundo, porque os temas frequentes de post são voltados a conteúdos institucionais que, apesar de relevantes, não baseiam discussões enriquecedoras. O uso de hashtag também poderia ter potencial para desenvolver o capital social, já que possibilitaria a reunião de informações de uma mesma temática ou discussão. Dentro dos níveis propostos pela OCDE (2003), a fan page se situa no nível de einformation, pois a comunicação é de via de mão única. E mostra que é possível disponibilizar informações de interesse público, visando uma ferramenta que contribui para a democracia digital. A qualificação do internauta e a oferta de informações podem ser causas que merecem a atenção ao propor a gestão de uma página de rede social por um órgão público, como é o caso da Secretaria de Políticas para as Mulheres. Muitos portais de grandes mídias ou marcas de produtos e serviços utilizam fan page, por exemplo, para realizar venda ou tráfego ao sítio web que é mantido por publicidade à medida que recebem visitas. Desse modo, disponibilizam conteúdos, principalmente com links para as páginas referentes, sem necessariamente gerir os envolvimentos (curtir, compartilhar e comentar). No entanto, essa realidade não se aplica à SPM e é por isso que há uma dificuldade em direcionar a pergunta: por que órgãos públicos criam canais em redes sociais se não a utilizam de forma adequada?

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Para responder a essa indagação faz-se necessário uma pesquisa de campo, com a aplicação de questionários para os gestores da Secretaria, incluso o de comunicação; e um estudo de caso, para entender o contexto, histórico e os recursos que motivaram a SPM a criar a página. Ações de secretarias governamentais no Facebook contribuem para o conhecimento primário do órgão pelos cidadãos internautas. No entanto, o conteúdo deve ser pensado de forma a gerar diálogo, informação e debate, o que seria visto como uso aprimorado das ferramentas disponíveis na rede social. Assim, um grupo minoritário, como as mulheres, manteria uma conversação civil com potencial para alcançar a esfera pública formal, interferindo em suas próprias políticas públicas.

Referências BEZERRA, H. D.; JORGE, V. L. Democracia digital e participação política no Brasil. In: 34º Encontro Nacional da Associação de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs). Caxambu, MG, 2010. BRANDÃO, E. P. Conceito de comunicação pública. In: DUARTE, J. (Org). Comunicação Pública: Estado, mercado, sociedade e interesse público. São Paulo: Atlas, 2012, 3ª ed. Páginas 1 a 33. GOMES, W. Participação Política Online: Questões e hipóteses de trabalho. In: MAIA, R. C. M.; GOMES, W; MARQUES, F. P. J. A. Internet e participação política no Brasil. Porto Alegre: Sulina, 2011. KOÇOUSKI, M.. Comunicação pública: construindo um conceito. In: MATOS, H. (Org). Comunicação Pública: interlocuções, interlocutores e perspectivas. São Paulo: ECA/USP, 2013. Páginas 41 a 58. MARQUES, F. P. J. A. Debates políticos na internet: a perspectiva da conversação civil. Opinião Pública, v. 12, n. 1, pp. 164-187, 2006. NACIMENTO, L. L.. Comunicação pública no Twitter. In MATOS, H. (Org). Comunicação Pública: interlocuções, interlocutores e perspectivas. São Paulo: ECA/USP, 2013. Páginas 199 a 212. OCDE. Promise and problems of e-democracy: challenges of online citizen engagement. Paris, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, 2003. ROTHBERG, D. Por uma agenda de pesquisa em democracia eletrônica. Opinião Pública, Campinas, vol. 14, nº. 1, junho, 2008. 13

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WAISELFISZ, J. J. Mapa da Violência 2015: homicídio de mulheres no Brasil. Flacso Brasil. Brasília, DF, 2015, 1ª edição.

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